quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Que se foda o plástico protetor!

Eu penso bastante sobre a vida. Na verdade sobre a morte. Li no jornal que uma velha estava completando 115 anos, ainda lúcida gostava de tricotar e assistir filmes antigos. Por que alguém iria querer viver tanto? Pra que? A média de vida é bem menor. Será que ela tinha medo de morrer, talvez por isso vivesse tanto? Eu nunca tive medo de morrer, mas me cago de medo da morte, não de morrer. Grande merda um tiro na cabeça ou uma corda em volta do pescoço. Já tive dezenas de acidentes piores, fraturas, cortes, casamentos... Desde criança tenho medo da morte. A maioria das pessoas se divide entre duas opiniões sobre a morte; vida após a morte e reencarnação, ou escuridão total. Eu tenho medo da primeira, e acho que a velha também. Provavelmente a velha tenha mais medo, viveu mais, sofreu mais. Tenho nem metade da idade dela e meu maior medo é voltar e ter que viver tudo de novo. Por que alguém iria querer isso?!
Mas e a segunda opção, o que eu estou esperando? Simplesmente se desligar. Como tirar um eletrodoméstico da tomada. Um eletrodoméstico velho, que não mais será usado. Lembro de uma frase, não do autor, que dizia mais ou menos assim; “Antes de nascer passei bilhões e bilhões anos morto, e não me lembro de nenhum inconveniente”. Também tenho medo da segunda opção, um medo bem menor e menos desesperador que o medo da primeira, mas mesmo assim um medo. Desligar-me assim, sem mais nem menos. Eu não teria a oportunidade de me arrepender. Vivo unicamente pra poder me arrepender de coisas que fiz, não de coisas que deixei de fazer. Mas pelo fato de eu concordar com a segunda opção, e entende-la, por conseqüência me faz pensar diferente. Ela mexe comigo. Se a idéia é desativar a máquina, qual o problema em agora rodar no máximo? Sem medo de estragar, afinal, ela está para ser desativada. Qualquer coisa é lucro. Merda de pensamento que voa. Agora penso que usando a máquina tão intensamente e só conhecendo lados bons eu possa acabar gostando. Ai o medo seria ter que desligá-la. Talvez assim eu perdesse o medo da primeira opção. Talvez as pessoas que gostam da primeira opção pensem assim. Tem esperança de voltar e rodar no máximo. Acho que não... As pessoas que seguem a primeira opção não têm esse perfil. São chatas e desinteressantes, e eu desinteressado. Compram sofás e nunca tiram o plástico. Sentam com rabo no plástico mesmo em dias quentes. Tem medo de estragar algo que foi feito pra dar conforto ao cu. A que custo, tão esperando o que? Porra, eu não quero usar um plástico. Quero ter a chance de me deteriorar com o tempo! Fui feito pra estragar. Fui moldado assim.
115 anos. Pobre velha. Logo vai se transformar numa foto. Um porta-retrato ao lado de um sofá coberto com plástico. Não vai fazer falta nenhuma no mundo. Eu também não farei. Alguém talvez ao passar em frente ao meu porta-retrato irá lembrar-se de alguma palhaçada que fiz. De alguma aventura que vivemos juntos. Ou de alguma historia que contei. Talvez até de alguma cicatriz que lhe causei. Mas irá tranquilamente viver sem mim. Provavelmente viverá até melhor. Que merda, uma vida toda de esforço pra um resultado sem retorno! Não vou ganhar nada com tudo isso. Qual a graça começar algo sabendo do inevitável fim? Não há pra onde correr. Mas gosto da idéia de resolver tudo logo, sem esperar. Autonomia, iniciativa, domínio. Desligo quando quiser, e se quiser. Dentro dessa pequena margem, entre nascer e morrer é que estou. É o meu proveito, a chave do meu poder.

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